Adão nu: pintura polêmica será restaurada em Ferros

Adão nu: pintura polêmica será restaurada em Ferros

Citada no romance de Roberto Drummond, Hilda Furacão, a pintura contendo o “Adão nu”, repercutiu na mídia nacional e internacional. A obra de arte da artista plástica mineira Yara Tupynambá, também foi palco de debates que movimentaram a década de 60. Tudo começou quando Yara Tupynambá foi convidada para pintar um mural decorativo para o altar da nova igreja de Ferros (MG), cidade que na época tinha cerca de 22 mil habitantes. A pintura “A árvore da vida”, que traz a imagem de Adão nu e Eva seminua, levou cerca de um ano para ficar pronta.

A imagem que causou controvérsias foi considerada o trabalho mais sério e admirável para Yara. “É o meu mais sério e importante trabalho que deveria chamar muito mais atenção pelo Cristo Glorioso que pintei em primeiro plano em tamanho maior que pelas outras figuras”, afirma Yara em entrevista para o jornal Diário Minas, em janeiro de 1973.

Nas cenas retratadas na minissérie Hilda Furacão, exibida em 1998 pela rede Globo, é possível notar que as mulheres entravam de costas na Igreja da Matriz e rezavam de olhos fechados, devido a pintura do “Adão nu”, fato este também tratado em diversos jornais da época. O prefeito de Ferros naquela ocasião, José Virgílio Gonçalves, realizou um seguro do mural, para resguardar a obra de depredações. O ex-chefe da COSEG (Coordenação Geral de Segurança), delegado Thacyr Mendes, “frisou que julgava não competir às autoridades policiais censurar obras de arte”. Ainda afirmou que só faria “intervenção policial para punir quantos ameaçam a vida alheia ou promovem perturbação ao poder público, seja por causa do painel ou não”, mas o fato é que se tornou uma questão de ordem e segurança pública.

Em entrevista para o jornal Estado de Minas em 2013, Yara relembra um pouco da polêmica: “Roberto Drummond fez uma matéria onde comentou sobre o nu na pintura. O caso acabou virando uma polêmica, com repercussão nacional e internacional”. Yara conta ainda que, “como tivemos opiniões diferenciadas na cidade, houve uma convocação dos bispos e, durante dois anos, vários deles vieram a Minas ver a obra. Como não conseguiram chegar a um consenso, o caso seguiu para o Vaticano, que analisou e considerou a pintura boa, em acordo com a igreja em decisão do Papa Paulo VI”.

Após 62 anos, a pintura será restaurada pela equipe técnica do Instituto & Memorial Yara Tupynambá, única com direitos legais para intervir, restaurar, autenticar as diversas manifestações artísticas da artista plástica Yara Tupynambá. A coordenação da restauração ficará por conta do vice-presidente do Instituto, David Faria, responsável pelas tratativas desde o início do projeto. “Todo processo de restauração merece uma atenção extrema. A princípio, não temos expectativas de data de início e fim. Porém, o respeito com a obra, suas técnicas e sua história, serão extremamente observadas e respeitadas, o que pode estender o prazo de sua conclusão”, afirma David.

Para a presidência do Instituto, “a importância do painel ‘A árvore da vida’, é preservar a imagem e o legado cultural de um patrimônio já tombado pelo patrimônio histórico, e perpetuá-lo para as futuras gerações”.

Instituto e Memorial Yara Tupynambá
Idealizado pela artista plástica mineira Yara Tupynambá, o Instituto que integra também seu Memorial é uma instituição sem fins lucrativos, sediado na sua própria casa. O Memorial, previsto pela artista em 2019, no sentido de eternizar seus feitos e o ideal de representar com exclusividade suas obras e manifestações artísticas, amparado nas instruções em manuscritos e documentos registrados, confiadas a seu genro e atual presidente, Geraldo Porfírio da Silva, que acompanha a artista há mais de 5 décadas, o qual foi nomeado para representar seus desejos, surgindo então o Instituto e Memorial Yara Tupynambá como concretização dos desejos e anseios de Yara Tupynambá. A lado do vice-presidente David Luiz Valdez de Faria, e dando continuidade aos ideais da artista, o Instituto tem por finalidade a promoção das artes e dos ofícios, a propagação da cultura, dos costumes e das tradições, entre outras de relevância social, cujos projetos, que levaram seu nome em parceria com o poder público e a iniciativa privada beneficiaram milhares de pessoas em diversas regiões do estado e do país.

DINO