Experiência técnica desafia avanço da automação offshore

Experiência técnica desafia avanço da automação offshore

A transição para fontes de energia limpa tem impulsionado investimentos significativos na indústria offshore. No entanto, a rápida expansão do setor expõe uma lacuna crítica: a escassez de profissionais experientes capazes de garantir a segurança e eficiência das operações.

A Siemens Energy estima que serão necessários até 500 mil novos trabalhadores qualificados para atender às metas de neutralidade de carbono nos próximos anos. O setor offshore do Reino Unido precisa atrair 10 mil novos profissionais anualmente até 2030 para cumprir os objetivos de descarbonização da rede elétrica.

Carlos Augusto Alves Santos, Supervisor de Perfuração Marítima com mais de 40 anos de experiência embarcada e membro honorário da Science Academy, ressalta:

“A resposta adequada em momentos críticos depende de um repertório técnico construído ao longo de anos de experiência. Algoritmos e simulações são ferramentas valiosas, mas não substituem a vivência operacional”, afirma.

Em 1996, Santos participou da resolução de um incidente significativo na plataforma Petrobras IV, quando uma falha no sistema de geração elétrica resultou em incêndio e risco de colapso. A equipe técnica, liderada por profissionais experientes, implementou ajustes no sistema de Controle PID (Proporcional, Integral, Derivativo), contendo o incêndio e restabelecendo o equilíbrio energético da unidade. A metodologia aplicada foi posteriormente registrada, servindo como referência para outras plataformas.

A escassez de profissionais experientes não é exclusiva do setor offshore. A indústria manufatureira enfrenta um déficit de 600 mil trabalhadores, com projeção de 3,8 milhões de vagas até 2033.

O governo britânico lançou iniciativas para treinar milhares de trabalhadores em habilidades verdes, visando apoiar a transição para energia limpa.

Santos enfatiza a importância de programas de mentoria e transferência de conhecimento:

“A digitalização é uma aliada poderosa, mas deve caminhar junto com o conhecimento técnico embarcado. A engenharia de risco marítimo exige decisões em segundos, e nem todo cenário pode ser previsto por sistemas automatizados”, conclui.

Enquanto a automação avança, o desafio da indústria offshore permanece em encontrar um ponto de equilíbrio entre a inovação tecnológica e a preservação do conhecimento embarcado — componente essencial para garantir a segurança, a continuidade e a eficiência das operações marítimas.

DINO