Doenças gastrointestinais: diagnóstico preciso é essencial

De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP) noticiados na CNN Brasil, cerca de cinco milhões de pessoas no mundo são acometidas por doenças que causam inflamações no intestino e não têm cura. No Brasil, houve um aumento de 15% na incidência dessas patologias nos últimos anos.
A médica gastroenterologista, especialista em Doenças Funcionais e Distúrbios do Intestino e membro do Instituto Medicina em Foco, Sabrina Figueiredo, explica que o crescimento das doenças inflamatórias intestinais (DII), como a Doença de Crohn e a Retocolite Ulcerativa, pode ser atribuído a diferentes fatores, “incluindo mudanças no estilo de vida, alimentação ultraprocessada, maior exposição a poluentes, uso excessivo de antibióticos e predisposição genética”.
Ela também afirma que a melhora no diagnóstico e uma maior conscientização sobre a doença têm levado a um aumento dos registros médicos. “O avanço no diagnóstico permite intervenções precoces, reduzindo a progressão das doenças gastrointestinais e melhorando a qualidade de vida dos pacientes. Com exames mais precisos e menos invasivos, o tratamento pode ser iniciado rapidamente, evitando complicações e hospitalizações desnecessárias”, pontua.
Como funciona o diagnóstico?
Entre as doenças gastrointestinais mais comuns, Sabrina destaca o refluxo gastroesofágico, a gastrite, a síndrome do intestino irritável (SII), a Doença de Crohn, a Retocolite Ulcerativa, o supercrescimento bacteriano no intestino delgado (SIBO), as intolerâncias alimentares e os distúrbios da microbiota intestinal.
Para uma melhor avaliação das condições e definição das formas de tratamento adequadas, a especialista afirma que a endoscopia digestiva alta e a colonoscopia permitem uma análise direta da mucosa do trato gastrointestinal.
“Esses exames ajudam a identificar inflamações, lesões, úlceras e pólipos. Já o teste para SIBO detecta um crescimento excessivo de bactérias no intestino delgado, o que pode causar sintomas como diarreia, distensão abdominal e má absorção de nutrientes. Juntos, esses exames possibilitam diagnósticos precisos e tratamentos personalizados”, detalha a Dra. Lais Naziozeno.
A profissional ainda destaca o teste do hidrogênio expirado, que mede os níveis de hidrogênio e metano no ar exalado após a ingestão de determinados substratos, como glicose ou lactose. De acordo com Sabrina, esse exame é muito utilizado para diagnosticar intolerâncias alimentares, como à lactose e à frutose, além de ser essencial na detecção do SIBO.
Além disso, segundo a médica, estudos avançados têm utilizado análises do microbioma intestinal para identificar padrões de disbiose (desequilíbrio bacteriano) associados a doenças gastrointestinais.
“Exames como o sequenciamento genético de bactérias intestinais permitem prever o risco de certas condições e guiar tratamentos personalizados, incluindo ajustes na dieta e o uso de probióticos específicos”, complementa.
O Dr. Rodrigo Barbosa, especialista em Doença de Crohn e fundador do NuDii da Medicina em Foco, destaca que a incorporação de novas tecnologias diagnósticas deve ser vista como um diferencial crucial na prática clínica. Segundo ele, a combinação de exames modernos e a análise detalhada do microbioma intestinal possibilitam uma abordagem personalizada que não só acelera o diagnóstico, mas também orienta terapias mais eficazes e individualizadas.
“Ao integrar essas ferramentas, podemos identificar com maior precisão as nuances entre as diversas doenças gastrointestinais, o que é fundamental para definir o melhor plano de tratamento”, afirma o Dr. Barbosa.
Importância do exame de disbiose do intestino delgado no diagnóstico diferencial
Segundo o especialista, o exame de SIBO, que detecta o crescimento excessivo de bactérias no intestino delgado, tem ganhado destaque como uma ferramenta indispensável para o diagnóstico diferencial. “Esse exame é fundamental para distinguir casos de supercrescimento bacteriano de doenças inflamatórias intestinais, uma vez que os sintomas podem se sobrepor”, explica.
“Ao identificar especificamente a presença de um desequilíbrio bacteriano, o exame permite que o médico direcione o tratamento de forma mais precisa, evitando intervenções desnecessárias e focando em terapias que atuem diretamente na causa dos sintomas”, complementa.
Desafios e perspectivas
A Dra. Charliana Uchoa, especialista do Instituto Medicina em Foco cita que a implementação em larga escala das novas tecnologias nos sistemas de saúde enfrenta alguns desafios, como a necessidade de profissionais especializados, o alto custo dos equipamentos, a falta de acesso a exames em regiões menos favorecidas e a burocracia na incorporação de novas tecnologias ao sistema público de saúde.
“A crescente incidência de doenças gastrointestinais reforça a necessidade de maior conscientização sobre a importância da alimentação equilibrada, do acompanhamento médico especializado e do acesso a exames modernos. Além disso, pesquisas sobre o impacto da microbiota intestinal na saúde geral devem continuar sendo incentivadas, pois podem revolucionar a abordagem terapêutica destas doenças nos próximos anos”, finaliza.