Uso de IA impacta a formação médica e prática clínica
A inteligência artificial (IA) está remodelando diversos aspectos da vida cotidiana e com o ensino superior em medicina não é diferente. Nesse contexto, diversas instituições responsáveis pela formação médica espalhadas pelo país vêm estabelecendo novos parâmetros no sentido de preparar os alunos para um mercado cada vez mais desafiador.
Gradativamente, o que se vê são adequações de grades curriculares e um planejamento que envolve a dinamização no uso de sistemas e softwares que prometem facilitar a prática clínica de forma segura e eficiente, porém sem substituir a atividade humana. Deste modo, a integração de conceitos de computação e programação no currículo médico se torna crucial.
Sistemas computadorizados de apoio à atividade médica já existem há décadas, contudo, o que há na atualidade é o aumento na velocidade de processamento e armazenamento da informação desses recursos que a IA permite aplicar na saúde.
Segundo o pesquisador Luiz Carlos Lobo, em artigo publicado na Revista Acadêmica do Centro Universitário Sumaré, “as universidades de medicina terão de disponibilizar cursos modulares de acesso livre como meio para a validação dos conhecimentos, realizar uma sistematização dos conhecimentos e das proficiências essenciais para conceder ao aluno sua licença como médico profissional, junto ao desenvolvimento de novos conhecimentos e pesquisas”.
Inovações na aprendizagem
Cursos com propostas inovadoras estão mais propensos a incorporar mudanças no processo de aprendizagem. Em Aracaju, por exemplo, a Universidade Tiradentes (Unit) incluiu novas ferramentas tecnológicas no currículo médico em diferentes etapas da graduação.
“Entre as ferramentas utilizadas destacamos o uso da Inteligência Artificial nas disciplinas que abordam os temas inerentes às Habilidades/Profissionais em TICs em saúde, Habilidades Profissionais Clínicas e Cirúrgicas, pois, o emprego dessas ferramentas em ambiente pré-clínico e em situações de simulação pode contribuir para o desenvolvimento do raciocínio clínico diagnóstico na tomada de decisões, sejam elas clínicas ou cirúrgicas. Além disso, durante as 12 etapas do curso está programada a realização de seminários, congressos e minicursos, com profissionais da área de IA na saúde, fato que permitirá interação prática entre eles e nossos discentes”, explica o coordenador do curso de Medicina da Unit, professor Dalmo Correia Filho.
Desafios
Diante do avanço do uso da inteligência artificial, outra perspectiva surge entre os discentes que incorporam também ferramentas à rotina de estudos, como ChatGPT e Gemini. Em pesquisa recente sobre Inteligência Artificial na Educação Superior, realizada pela Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (Abmes), em parceria com a Educa Insights, cerca de 80% dos entrevistados declararam conhecer as tecnologias.
O levantamento apontou ainda que 29% dos entrevistados utilizam as ferramentas nos estudos diariamente e 42%, semanalmente, totalizando 71% que usam a IA com frequência. A pesquisa foi submetida a 300 estudantes universitários que ingressaram na faculdade entre o fim de 2023 e início de 2024 e com alunos que têm interesse em uma graduação particular, com idade entre 17 e 50 anos, das cinco regiões do país. Quanto ao comparativo no período de 2023 e 2024 daqueles que fazem uso frequente de IA na vida acadêmica, constatou-se um aumento de 18 pontos percentuais, apontado em 53% e 71%, respectivamente.
Nesse aspecto, o professor Dalmo Filho faz uma ressalva que o processo de incorporação contínua de conhecimento deve fazer parte do planejamento das instituições. “A busca por oferecer as melhores práticas de ensino inclui cursos de capacitação continuada para docentes, incluindo a utilização de novas ferramentas da IA, igualmente a implementação de infraestrutura de laboratórios com acesso a plataformas de aprendizado que permitam o ensino sobre IA. Vale ressaltar que essa abordagem de ensino envolve questões éticas e de responsabilidade de qualquer plataforma de IA (Gemini, Chat GPT etc.) por se tratar de ferramentas generativas de conhecimento e não formativas, o que quer dizer que os alunos devem ter conhecimento do que vão solicitar a essas plataformas e não utilizá-las para fazer o contrário”, afirmou.
Ainda neste âmbito, a MIT Technology Review Brasil, maior plataforma de conteúdo de inovação e tecnologia do mundo, traz a percepção de centros universitários de excelência: as escolas de Medicina de Harvard e Oxford.
Em Harvard, a faculdade incentiva o uso no formato de “experimentação responsável” para que os estudantes tenham um envolvimento que leve a uma compreensão mais profunda, alimentando o ChatGPT com tarefas de seus cursos e observando o que é produzido.
A utilização de forma ética de dispositivos IA também é uma preocupação na Escola de Medicina de Oxford, onde a partir do terceiro ano os estudantes têm livre escolha entre uma série de opções avançadas de disciplinas, nas quais o assunto pode ser abordado.
Capacitação médica
Além dos processos inerentes à vida acadêmica, a Inteligência Artificial abrange também o profissional médico. Com isso, diversas instituições despontam ofertando cursos que capacitam esse público.
Recentemente a Afya, maior hub de educação e soluções para prática médica do Brasil, lançou em parceria com a Microsoft o programa “Inteligência Artificial na Medicina”. O projeto, concebido sob o conceito de educação continuada, disponibiliza cursos e recursos de apoio, capacitando-os a adotar e integrar com confiança a IA em sua prática clínica, desde o atendimento médico até o diagnóstico.
“A inteligência artificial está alterando a prática médica de forma significativa”, comenta Denis Del Bianco, VP de Educação Continuada e Inovação da Afya. “São ferramentas que melhoram a precisão dos diagnósticos, personalizam tratamentos, facilitam o monitoramento remoto dos pacientes e automatizam tarefas administrativas. Isso tudo tem o potencial de aumentar a produtividade dos médicos, melhorar a qualidade do atendimento médico e a experiência do paciente, além de reduzir o estresse e burnout dos profissionais”, complementa.