Uso de nanotecnologia transforma terapia com Cannabis

Nos últimos anos, o Brasil tem assistido a uma transformação profunda na forma de cuidar da saúde. Cada vez mais pessoas buscam abordagens que integrem corpo, mente e bem-estar emocional, o que impulsiona o crescimento da chamada saúde integrativa.
Só em 2023, cerca de 7,1 milhões de brasileiros utilizaram práticas integrativas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), como fitoterapia e acupuntura — um aumento que revela a confiança nessas abordagens. Paralelamente, cresce também o interesse por tratamentos que respeitem as particularidades de cada corpo, promovendo um cuidado mais personalizado e centrado no paciente.
Nesse contexto, a Cannabis medicinal surge como uma das principais alternativas terapêuticas, com potencial para oferecer qualidade de vida e alívio em casos tão distintos quanto complexos, como ansiedade, dor crônica, epilepsia, Alzheimer e Parkinson.
Mas o que há de mais sofisticado nesse campo vai além da planta em si: a nanotecnologia está aprimorando a eficácia, a absorção e a segurança desse tipo de tratamento.
Desafios da absorção da Cannabis pelo organismo
Os canabinoides, como o CBD e o THC, são compostos lipofílicos, ou seja, têm afinidade por gorduras e são pouco solúveis em água. O corpo humano, em sua maioria, é composto por água, o que dificulta a absorção dessas substâncias.
Geralmente, os produtos à base de Cannabis estão disponíveis na formulação de óleo para uso oral, e quando ingeridos precisam passar pelo sistema digestivo. Além disso, há o chamado metabolismo de primeira passagem pelo fígado, que reduz a quantidade da substância ativa que chega à corrente sanguínea.
Na prática, isso significa que doses maiores podem ser necessárias para alcançar os efeitos terapêuticos desejados, o início da ação pode ser mais lento e o risco de efeitos adversos, maior. Estudos indicam que apenas cerca de 6% da quantidade ingerida pode ser efetivamente absorvida.
Com o auxílio da nanotecnologia, a absorção de CBD pelo corpo pode ser duas vezes maior, e a de THC, até três vezes maior.
Nanotecnologia: uma aliada invisível
O uso da nanotecnologia na saúde abre caminho para revolucionar a forma como os produtos com fitocanabinoides são desenvolvidos e administrados. Atuando em uma escala minúscula — milhões de vezes menor que um grão de areia — essa tecnologia pode garantir maior biodisponibilidade e eficácia para substâncias terapêuticas.
Em produtos à base de Cannabis, a nanotecnologia permite encapsular os princípios ativos da planta — como o CBD e o THC — em partículas tão pequenas que atravessam com facilidade as barreiras do organismo. O resultado é um tratamento com maior biodisponibilidade, ação direcionada e redução de efeitos colaterais.
Além de aumentar a absorção dos produtos derivados de Cannabis, a nanotecnologia também amplia as formas de uso, trazendo mais conforto e adesão ao tratamento.
“A nanotecnologia aplicada aos canabinoides permite desenvolver sistemas com maior estabilidade e absorção, o que pode favorecer a eficácia terapêutica. Essa abordagem amplia as possibilidades de formulação, respeitando a necessidade de individualização e segurança no manejo clínico”, afirma Ana Gabriela Baptista, CEO da TegraPharma e pesquisadora com atuação em inovação de produtos com canabinoides.
Avanço Terapêutico: Cannabis com nanotecnologia já está disponível no Brasil
No Brasil, a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 660/2022 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) regulamenta a importação de produtos com canabinoides para uso medicinal, mediante prescrição por profissional habilitado. A partir dessa norma, produtos à base de Cannabis com nanotecnologia passaram a ser acessíveis em território nacional, mediante critérios técnicos e respaldo clínico.
A TegraPharma, empresa americana que atua na facilitação do acesso à Cannabis medicinal em diversos países, disponibiliza formulações com canabinoides e nanotecnologia para o Brasil por meio da RDC 660. Os produtos são destinados exclusivamente ao uso medicinal e acessíveis aos pacientes mediante prescrição e acompanhamento profissional.
Individualização do cuidado e inovação clínica
Além de contribuir para a absorção e ampliar as formas de uso, a nanotecnologia também está alinhada ao conceito de medicina personalizada. A possibilidade de ajustar formulações conforme o perfil clínico e metabólico do paciente contribui para o desenvolvimento de condutas mais adequadas, com foco na efetividade terapêutica e menor exposição a efeitos adversos.
“As formulações com nanotecnologia, já disponíveis no Brasil, representam uma evolução no campo das terapias com canabinoides. O uso responsável, aliado a critérios técnicos e regulatórios, permite conduzir o tratamento de forma mais ajustada ao perfil de cada paciente”, complementa Ana Gabriela Baptista.
Mais do que alívio: qualidade de vida com ciência
Ao aumentar a biodisponibilidade, diversificar as formas de uso e permitir tratamentos mais personalizados, essa inovação amplia o acesso a terapias eficazes e centradas no paciente, especialmente em quadros clínicos complexos e crônicos.