Fisioterapia se fortalece como aliada da saúde mental em projeto desenvolvido pela Estácio Curitiba nos CAPS de Pinhais
Fisioterapia se fortalece como aliada da saúde mental em projeto desenvolvido pela Estácio Curitiba nos CAPS de Pinhais
A integração entre corpo e mente tem se mostrado uma estratégia transformadora para pacientes atendidos nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Segundo o fisioterapeuta Felipe Alves, preceptor do Estágio Supervisionado em Saúde Comunitária do curso de Fisioterapia da Estácio Curitiba, a fisioterapia produz efeitos diretos sobre aspectos emocionais.
Para inserção dos estagiários no CAPs, Felipe desenvolveu um projeto no qual a cinesioterapia — terapia baseada no movimento — é o pilar central de todas as atividades. “A atividade física libera hormônios, regula o sono e o apetite, além de estimular a produção de endorfina e serotonina. Isso ajuda a estabilizar o humor e reduzir quadros de ansiedade e depressão”, explica o fisioterapeuta. Com mais de 100 pessoas já atendidas, o projeto demonstra efetividade na prática.
Alves destaca ainda que a fisioterapia respiratória é fundamental para pacientes em crise de ansiedade e ressalta que há conhecimento clássico sobre isso: “quando alguém está muito nervoso, dizemos ‘respira’. Nós aplicamos essa orientação de forma técnica, com exercícios específicos que ajudam no controle das crises”.
O ambiente coletivo é adotado sempre que possível nos atendimentos. “Eles percebem que não estão sozinhos e que outros passam por dificuldades semelhantes. Essa troca faz muita diferença. Vários pacientes já tiveram algum nível de progresso e verificamos que, após a atividade, eles estão menos deprimidos e cansados”, relata Alves. Um exemplo de que sentir-se cuidado tem papel importante na autoestima é o relato de um paciente – que procurou o médico por orientação do projeto e descobriu ser hipertenso, demonstrando melhora significativa no autocuidado.
Durante as atividades de estágio, a equipe identificou que muitos usuários enfrentam dores físicas, alterações de peso, pressão arterial desregulada e dificuldades respiratórias — fatores que interferem na saúde mental e na disposição para atividades. Para tanto, os alunos realizam aferição de pressão arterial, controle de peso e avaliações funcionais como rotina. Alves complementa que a perda de funcionalidade também pode desengatilhar depressão e ansiedade, especialmente em cadeirantes, pessoas com sequelas neurológicas ou vítimas de queimaduras. “Nesses quadros, a fisioterapia funcional se torna essencial para prevenir o agravamento emocional”.
Além disso, a prática fisioterapêutica no CAPS é totalmente integrada à equipe multidisciplinar. Além de verificar a pressão arterial e observar sinais de alerta, a equipe de estágio também procura identificar o uso incorreto de medicação e encaminhar os pacientes para médicos, farmacêuticos ou enfermeiros sempre que necessário. “Muitas vezes o paciente chega sem saber que está hipertenso ou sem tomar o remédio corretamente. Com nosso monitoramento, conseguimos antecipar cuidados e evitar complicações.”
O fisioterapeuta afirma ainda, que a adesão ao tratamento aumentou desde a chegada da fisioterapia. Muitos usuários passaram a frequentar o CAPS especificamente nos dias em que a equipe da Estácio está presente. Outras mudanças já foram observadas: maior atenção aos próprios cuidados de saúde, melhora na disposição para sair de casa e participação mais ativa nas atividades coletivas. “Eles estavam receosos no início, mas agora demonstram mais confiança, entusiasmo e até preferência pelos dias de fisioterapia”, conta o professor. Para ele, fortalecer políticas públicas que integrem fisioterapia e saúde mental é essencial.
A professora Adriane Mazola Russ, coordenadora do curso de Fisioterapia e supervisora dos estágios supervisionados obrigatórios, reconhece que iniciativas como essa representam o compromisso da Estácio Curitiba em formar profissionais sensíveis e preparados para atuar na Saúde Comunitária. “A presença da fisioterapia em espaços como os CAPS não é apenas uma complementação ao atendimento em saúde mental — é uma transformação essencial na forma como se cuida das pessoas”, diz Adriane.
Ela explica que ao integrar conhecimento técnico com humanidade, os estagiários aprendem que cada movimento, cada respiração controlada, cada momento de acolhimento em grupo representa uma oportunidade real de restituir dignidade, autonomia e esperança aos pacientes. “Projetos assim reafirmam que a Saúde Comunitária só alcança seu potencial máximo quando a fisioterapia está presente desde o início, oferecendo perspectivas mais amplas e resultados mais significativos para aqueles que mais precisam”.
Centro de Atenção Psicossocial (CAPS)
Para a enfermeira e gerente da Saúde Mental da Prefeitura de Pinhais, Rosangela Maria Mochinsky, o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) foi instituído em 2002 com o propósito de oferecer tratamento a indivíduos em sofrimento psíquico, decorrente de transtornos mentais e/ou uso de substâncias psicoativas, em substituição à internação hospitalar.
Segundo ela, o município de Pinhais dispõe de 2 CAPS Regionais (I e II) e 1 CAPS Infantil, os quais abrangem as duas clínicas: transtorno mental e dependência química. Ela complementa que a equipe multiprofissional é composta por médicos psiquiatras, clínicos e pediatras, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais e psicólogos.
Sobre a parceria com a Estácio, ela conta que durante a permanência dos acadêmicos, constatou-se uma melhoria na interação dos usuários com a equipe. “Os usuários demonstraram reconhecimento da corporeidade como parte integrante do processo terapêutico. O cuidado com a saúde mental também se insere no escopo de atuação do profissional de fisioterapia”, destacou.
