Mulheres 50+ enfrentam esquecimentos na menopausa

A menopausa é um marco na vida da mulher e, além das mudanças físicas mais conhecidas, como os fogachos, traz sintomas que preocupam: lapsos de memória, dificuldade de concentração e sensação de “mente nebulosa”. Pesquisadores de Harvard explicam que o declínio hormonal, especialmente a queda do estrogênio, pode impactar áreas cerebrais ligadas à memória e à atenção. Isso não significa que todas as mulheres terão comprometimento cognitivo, mas ajuda a entender por que tantas relatam esquecer compromissos, perder objetos ou sentir que tarefas antes simples agora exigem maior esforço mental. Na maioria dos casos, essas alterações são transitórias e tendem a se estabilizar após a fase de maior oscilação hormonal.
Segundo a médica inglesa Louise Newson, especialista em saúde feminina, para além da fisiologia, há também um peso emocional. “Muitas mulheres se sentem isoladas ao lidar com sintomas que ainda são cercados de tabus. Acreditar que a perda de memória seja sinal de envelhecimento precoce ou mesmo de demência aumenta a ansiedade e amplia o sofrimento”, afirma. Para a especialista, falar sobre o tema, compartilhar experiências e contar com apoio mútuo ajuda a reduzir o estigma e a enxergar essa fase como uma transição natural.
Um estudo registrado pela PubMed Central diz que a névoa cerebral é uma experiência subjetiva frequentemente relatada durante a menopausa, abrangendo lapsos de memória, dificuldade de concentração e fadiga mental. Mulheres nos estágios iniciais da menopausa que participaram das pesquisas se mostraram mais propensas a apresentar déficits na memória verbal, memória de trabalho e função executiva em comparação com mulheres na pré-menopausa. A memória verbal e a velocidade de processamento durante a menopausa dependem do hipocampo, que parece ser particularmente afetado, com estudos mostrando que o estrogênio aumenta a conectividade sináptica nessa região, auxiliando na retenção da memória. No entanto, esses efeitos foram considerados transitórios para muitas mulheres, com a função cognitiva frequentemente se estabilizando na pós-menopausa.
A psicóloga paulistana Beatriz Leite Machado lembra que os sintomas da menopausa reverberam no humor, na autoestima e também na memória. “As dificuldades de atenção estão diretamente ligadas ao cansaço e aos lapsos de memória, mas há maneiras simples de enfrentar essa situação. Listar os afazeres do dia seguinte, usar agendas e alarmes, deixar lembretes sobre compromissos inadiáveis pode ser de grande ajuda”, afirma. Ela acrescenta que, enquanto não existe um medicamento que resolva todos os desconfortos, hábitos saudáveis são fundamentais. Práticas de respiração consciente ou mindfulness, por exemplo, contribuem para treinar o foco e a memória, funcionando como exercícios cognitivos de longo prazo.
Esse olhar também aparece no livro 50+ Desperte para a vida e pare de sofrer, da jornalista Heloísa Paiva, que será lançado em 19/10, às 15h, na Livraria Cultura. A autora propõe práticas simples como escrever um diário, registrar ideias e sentimentos e adotar a escrita como forma de clarear a mente. Ela recomenda ainda atividades manuais como bordado, pintura e cerâmica, que exercitam o foco e a atenção plena, além de trazerem prazer e sensação de conquista. Segundo Paiva, essas práticas ajudam a cultivar controle sobre os pensamentos, estimulam a criatividade e favorecem novas conexões. “Outra queixa comum é quando a mulher precisa cuidar praticamente sozinha de familiares idosos que enfrentam doenças como o Alzheimer, o que acende o medo de desenvolver quadros semelhantes. Essa angústia pode ser suavizada com atitudes de sororidade, o exercício de dizer não e o envolvimento de outros membros da família nesses cuidados”, afirma.
A soma dessas perspectivas mostra que a perda de memória na menopausa não deve ser encarada como sentença definitiva. A ciência confirma que o cérebro mantém sua capacidade de adaptação ao longo da vida, e hábitos de cuidado físico e emocional estimulam a neuroplasticidade, ajudando a preservar e até ampliar a capacidade cognitiva. O neurologista Raphael Spera, em entrevista ao Jornal da USP, resume: “A atividade física do cérebro é o aprendizado: aprender uma língua, um instrumento musical ou realizar trabalhos manuais. Tudo isso reforça as vias de aprendizado e estimula a plasticidade”.