Sobrepeso está diretamente relacionado à saúde da mulher

A saúde da mulher pode ser afetada de diferentes formas pelos efeitos do excesso de peso. Alterações fisiológicas diversas, relacionadas ao sobrepeso e à obesidade, podem acometer qualquer órgão ou sistema do organismo feminino, levando a diferentes manifestações em cada fase da vida.
A médica endocrinologista Dra. Daniele Zaninelli, que integra a Câmara Técnica de Endocrinologia do CRM-PR e é membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), alerta que tanto a saúde física como emocional podem ser influenciadas. Ela conta que mais de 200 condições de saúde podem ser causadas ou agravadas pelo excesso de gordura corporal. Como exemplo, a especialista cita: diabetes, doenças cardíacas, alguns tipos de câncer, osteoartrite, gordura no fígado, distúrbios menstruais, infertilidade, ansiedade e depressão.
O excesso de peso pode afetar a expectativa de vida da mulher
As doenças cardiovasculares (DCVs) são a principal causa de morte entre as mulheres, sendo responsáveis por cerca de uma em cada três óbitos. “A obesidade contribui tanto indiretamente, por meio do aumento do risco de desenvolver problemas como hipertensão, diabetes, dislipidemia e distúrbios do sono, como de forma direta, ou seja, o risco aumenta com a obesidade, mesmo em mulheres sem essas condições”, destaca a Dra. Daniele.
A obesidade pode afetar o desenvolvimento puberal, a fertilidade e a gestação
A endocrinologista ressalta ainda que mulheres com obesidade têm maior probabilidade de apresentar puberdade precoce, sangramento uterino disfuncional, alterações menstruais e infertilidade.
De acordo com a especialista, a obesidade potencializa os efeitos da síndrome dos ovários policísticos (SOP) e, por outro lado, a SOP também pode agravar a obesidade. “Mulheres com obesidade podem ter mais dificuldade para engravidar, e podem apresentar também resultados piores após fertilização in vitro (FIV) do que aquelas com índice de massa corporal (IMC) saudável”, revela a médica.
A endocrinologista reforça ainda que a obesidade pode aumentar os riscos à gravidez, e que complicações como aborto espontâneo, pré-eclâmpsia e diabetes gestacional são mais frequentes em mulheres com sobrepeso. “Além disso, aumenta o risco perinatal, tanto para a mãe como para o bebê. Há maior risco de parto prematuro e anomalias congênitas, exemplifica.
Existem cuidados especiais com a anticoncepção em mulheres com obesidade?
A Dra. Daniele evidencia ainda que mulheres que não desejam engravidar devem ficar atentas, pois diversos tipos de contraceptivos hormonais podem apresentar eficácia reduzida em pessoas com obesidade. Além disso, alguns medicamentos podem interferir na eficácia dos anticoncepcionais. Entre eles estão o topiramato e a tirzepatida (Mounjaro).
A obesidade também pode influenciar o perfil de risco associado a diferentes métodos contraceptivos. Em mulheres que utilizam anticoncepcionais orais, o risco de tromboembolismo venoso (TEV) é maior entre aquelas com obesidade em comparação com mulheres com IMC saudável. A endocrinologista acrescenta que o risco pode ser ainda maior no caso de associação de fatores como diabetes, tabagismo e dislipidemia.
A escolha do método contraceptivo também exige uma abordagem individualizada em mulheres com histórico de cirurgia bariátrica com componente disabsortivo. “Portanto, é sempre importante levar em consideração condições de saúde associadas, fatores de risco e medicações em uso”, enfatiza a Dra. Daniele.
Excesso de peso, menopausa e envelhecimento
Dados do Study of Women’s Health Across the Nation (EUA) sugerem que as mulheres ganham, em média, cerca de 0,7 kg de peso por ano nesse período (faixa etária de 42 a 52 anos no início do estudo). Vários fatores contribuem para as mudanças no peso e na composição corporal.
A endocrinologista aponta ainda que durante os anos que cercam a menopausa, as mulheres passam por alterações hormonais que se somam aos efeitos do envelhecimento. Nessa fase também é comum haver uma redução do nível de atividade física, alterações do sono, aumento do consumo alcoólico, problemas emocionais, uso de medicamentos, e tantos outros fatores que contribuem para o ganho de peso.
Além do aumento de peso, a médica explica que ocorre perda de massa muscular. A partir dos 40 anos de idade há uma perda, em média, de 8% da massa muscular por década de vida. Após os 70 anos as taxas de perda aumentam para 15% por década. Isso ainda pode ser exacerbado por dietas restritivas e pela condução inadequada de tratamentos para perda de peso.
Soma-se a isso a mudança do padrão de distribuição da gordura corporal. Passa a haver maior acúmulo de gordura abdominal (visceral). Dados do Women’s Health Initiative, estudo realizado em 40 centros nos EUA, mostraram que mulheres na pós-menopausa com circunferência do abdômen maior que 88 centímetros apresentavam maior risco de mortalidade geral e cardiovascular do que aquelas sem obesidade abdominal, mesmo que estivessem com IMC dentro da faixa normal. Por isso, não importam apenas os números na balança.
A médica destaca que todas essas questões culminam com o aumento de distúrbios metabólicos e do risco cardiovascular. E enquanto a menopausa aumenta o risco de obesidade e morbidade cardiometabólica, estudos também demonstram que a obesidade pode piorar os sintomas relacionados à menopausa. Além disso, a obesidade aumenta a apneia do sono, enquanto os distúrbios do sono podem contribuir para a obesidade na perimenopausa. São vias de mão dupla.
Há também a associação entre obesidade, menopausa e incontinência urinária (IU). A obesidade aumenta a pressão abdominal e a pressão vesical, o que é impactante especialmente para mulheres de meia-idade e idosas. A disfunção sexual também pode ser uma questão importante nesse período.
Sabe-se que a obesidade pode afetar diversos aspectos da saúde física e mental ao longo da vida da mulher. “O enfrentamento dessa condição deve ser proativo. Profissionais de saúde que olham pela saúde da mulher devem antecipar-se às disfunções comuns a cada fase da vida, oferecendo um tratamento preventivo e eficaz, buscando melhorar a saúde e a qualidade de vida de suas pacientes”, pontua a especialista.