Como o exemplo pode transformar e inspirar novos caminhos na docência
*Por Everton Drohomeretski
À medida que o ano letivo chega ao fim, é comum ver os alunos do ensino médio refletindo sobre o futuro, sobre as escolhas que farão e os caminhos que desejam trilhar. É um momento decisivo, e também inspirador, para falarmos sobre a docência.
Os dados mais recentes sobre o ensino superior no Paraná revelam números animadores sobre as licenciaturas no estado. O censo divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) mostra que o ano de 2024 registrou um aumento de 4,1% no número de concluintes em cursos de licenciatura em relação a 2023.
Desse total, cerca de 73% dos estudantes cursam na modalidade a distância, o que mostra que a formação docente segue se expandindo e alcançando novos públicos em todas as regiões do estado.
Entre as áreas com maior aumento de concluintes estão História, Letras, Química e Artes Visuais, o que aponta para um incremento de novos professores atuando nas escolas. Esse movimento indica que, apesar dos desafios, o interesse pela carreira docente continua vivo, e isso é motivo de esperança.
O poder de inspirar
O exemplo é uma das formas mais poderosas de inspirar escolhas. Os professores que atuam no ensino médio, junto com as famílias, exercem grande influência na escolha de carreira dos jovens.
Quando o educador transmite paixão pela profissão e faz o conhecimento ganhar vida, ele desperta nos alunos o desejo de seguir o mesmo caminho. É nessa relação cotidiana, feita de exemplos, palavras e atitudes, que muitos descobrem o encanto da docência.
A paixão por ensinar é contagiante. É ela que desperta o interesse pelo novo, o prazer em aprender e o desejo de contribuir com a sociedade. Assim, o professor torna-se não apenas um transmissor de saberes, mas um inspirador de vocações e protagonista de transformações sociais, porque só uma educação de qualidade tem o poder de mudar uma nação.
Escolher ensinar é escolher transformar
Aos jovens que estão concluindo o ensino médio e pensando no futuro, costumo dizer que escolher a Educação é um ato de coragem e propósito. Trata-se de uma decisão vocacionada para quem deseja contribuir diretamente com o desenvolvimento da sua região e com a formação de valores.
Como professores, esses jovens poderão protagonizar, de maneira rápida e com impacto duradouro, uma transformação social que só a Educação é capaz de gerar.
Os ganhos da docência vão muito além da remuneração. Ser professor é acumular riquezas intangíveis, como o amor pelo aprender, o respeito às diferenças, o apreço pela cultura, a convivência harmônica e a busca de conhecimento como ferramenta para resolver os problemas da sociedade.
O professor como conector social
Com a evolução acelerada da tecnologia e as mudanças profundas no comportamento da sociedade, a docência deixou de ser apenas uma profissão de transmissão de conteúdos para se tornar uma profissão de conexão e mediação. Hoje, o professor é um conector social entre os alunos e o mundo em que vivem.
Os conteúdos, antes restritos à sala de aula, estão disponíveis em qualquer tela. Mas é o educador quem ensina como usar o conhecimento de forma ética, responsável e transformadora. Essa nova dimensão docente reforça o protagonismo do professor, que agora atua como orientador, mediador e formador de cidadãos capazes de pensar criticamente e agir com empatia.
A escola precisa mudar junto
Acredito que estamos diante de uma mudança significativa no conceito de escola. O modelo centenário de alunos enfileirados, copiando do quadro e estudando para a prova, já não faz sentido.
Os jovens da geração atual são mais críticos, questionadores e têm acesso a um volume de informações muito maior do que o que tínhamos décadas atrás.
Por isso, os novos professores precisam de liberdade para reinventar o processo de ensino e aprendizagem. Precisam de espaço para criar novas formas de avaliar, experimentar e inovar, inclusive levando o aprendizado para fora das salas de aula, ou, como se dizia em gerações anteriores, para fora dos muros da escola.
Estamos diante de uma grande oportunidade de modernizar a Educação em sua essência, tornando-a mais significativa tanto para quem ensina quanto para quem aprende. E isso é fundamental para acolher as novas gerações, que já nascem com a inteligência artificial embarcada no seu cotidiano.
Um mundo de oportunidades
As diferenças entre as áreas de licenciatura refletem também as afinidades e influências sociais dos jovens. Muitos escolhem suas carreiras com base nas aptidões, quem é bom em Matemática tende a seguir para Matemática ou Física; quem se identifica com Humanas busca História, Filosofia ou Letras.
Outros se deixam guiar pelo que veem e ouvem nas redes sociais ou pela forma como a mídia destaca certas profissões. Quando se fala da falta de professores em determinada área, é natural que o interesse por aquele curso cresça.
Mas, independentemente da área escolhida, a docência é um campo repleto de possibilidades. O jovem que decide ser professor ganha um mundo de oportunidades pela frente. Ele pode continuar os estudos, ampliar horizontes e até mudar de área conforme seus interesses e as necessidades da sociedade.
O professor do novo tempo precisa ser um profissional em constante desenvolvimento, aberto ao novo, à mudança e ao aprendizado permanente. Pode iniciar sua carreira em Filosofia e terminar como um grande mestre da saúde ou da área aeroespacial.
Vejo com entusiasmo o momento que vivemos nas licenciaturas. Os números indicam crescimento e, mais do que isso, revelam um novo interesse dos jovens pela docência.
Reforçar esse movimento é essencial para assegurar a formação de novos professores, fortalecer a qualidade da educação e garantir a continuidade do conhecimento que transforma a sociedade.
Por Everton Drohomeretski, Pró-Reitor de Ensino, Pesquisa e Extensão na FAE Centro Universitário e diretor administrativo do Sinepe/PR.
