26 anos da canonização de São Marcelino Champagnat e a urgência de uma educação com alma

Artigo produzido pelo Irmão Ronaldo Luzzi, Diretor Institucional do Colégio Marista Santa Maria — Curitiba (PR)
Em um mundo cada vez mais acelerado, individualista e marcado pela tecnocracia, pode parecer anacrônico falar de um santo educador do século XVIII. No entanto, foi exatamente isso que a Igreja Católica fez em 18 de abril de 1999, ao canonizar Marcelino Champagnat, sacerdote francês e fundador do Instituto Marista. E que bom que fez.
Champagnat não é apenas mais um nome entre os santos. Ele é um lembrete vivo, ainda hoje, de que educação e fé não precisam ocupar lados opostos de uma mesma batalha. Pelo contrário, podem — e devem — caminhar juntas.
Champagnat não é apenas mais um nome entre os santos. Ele é um lembrete necessário — e urgente — de que educação e fé não são inimigas, mas aliadas potentes. Sua canonização, que seguiu um processo rigoroso e incluiu a comprovação de três milagres em diferentes continentes, vai além de um reconhecimento espiritual: é uma afirmação pública de que a santidade pode florescer nas salas de aula, no olhar atento a um jovem aflito, na escuta paciente de quem quase nunca é ouvido.
Canonizar é, sim, um ato simbólico. Mas não só. É um gesto carregado de intenção: é dizer ao mundo que aquela vida vale ser observada, imitada, seguida. Que ali há verdade, virtude e um caminho seguro para a fé e para a convivência. Champagnat já inspirava muitos antes da canonização — sua obra falava por si —, mas a santidade reconhecida amplia esse eco, rompe fronteiras, reforça seu legado.
O que torna Champagnat ainda mais relevante é a sua radical simplicidade. Enquanto hoje se discutem metodologias educacionais com jargões técnicos e discursos vazios, ele oferecia o que há de mais poderoso na pedagogia: presença. Não havia nele fórmulas prontas ou teorias distantes. Havia o cotidiano vivido com os jovens, muitos deles à margem da sociedade, a quem ele oferecia não só instrução, mas dignidade.
Sua pedagogia, enraizada na espiritualidade mariana, o carisma Marista, que hoje atravessa continentes, continua pulsando justamente porque é enraizado em algo que o mundo atual parece ter perdido: a ideia de que cada jovem importa. Que cada história merece atenção. Que a educação é, acima de tudo, um ato de amor.
Ao reconhecer oficialmente a santidade de Champagnat, a Igreja não fez apenas um gesto simbólico. Ela reforçou que espiritualidade e compromisso social são inseparáveis. Que o verdadeiro cristão não se fecha em templos, mas se derrama em escolas, comunidades, fronteiras invisíveis da exclusão.
Mais de 180 anos após sua morte, São Marcelino ainda inspira, ou deveria inspirar, todos os que se propõem a educar. Porque sua vida ainda nos provoca: estamos formando apenas mentes, ou também corações? Estamos ensinando a competir, ou a servir? Estamos preparando os jovens para o mercado, ou para o mundo?
Porque, no fim das contas, educar como ele educou é, também, um milagre. E talvez seja o milagre de que mais precisamos hoje.